27 de maio de 2010

Dúvidas de mãe

Lembra da mulher relativamente focada que costumava habitar seu corpo antes da maternidade? Pois é, foi embora levando sua cabeça livre de preocupações, seu sono em dia, sua classe e etiqueta. E sobra você, infinitamente mais feliz, mas com a cabeça cheia de dilemas:

- Encho a casa de câmeras e fico paranóica ou somente fico paranóica?
- Episódio inédito de Desperate Housewifes ou preencher o 'Livro do bebê'?
- Baby Einstein ou Backyardigans?
- Baby-sitter e balada ou baby-sitter e mais horas de sono?
- Salto básico e baixo ou salto alto e Dorflex?
- Estée Lauder ou Johnsons?
- Dar bronca ou dar risada?
- Almoço longo, com conversas e cheio de saudades ou almoço voando, com cadeirão, bagunça e gritos?
- Compras para mim e para ela ou para ela e para ela?
- Massagem e manicure ou aula de música infantil?
- Tentar assumir a 'super nanny' em público ou voltar para casa correndo?
- Pássaro e cachorro ou piu-piu e au-au?
- Domingo na cozinha ou papinha da Nestlé?
- Curtir a retomada de posse do seu peito ou ter mais um filho?
- Mimar demais e culpar a genética de ídiche mame ou mimar demais e pagar terapia mais tarde?

To be continued...

25 de maio de 2010

Lya Luft

A canção de qualquer mãe


Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante.

Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação.

Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom.

Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento.

Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter.

(Fonte: Veja.com - Edição 2164)

13 de maio de 2010

Ser mãe é...

... Acreditar que é uma glória acordar às 7:20h
... Sentir-se absolutamente feliz quando seu filho não deixa nada no prato
... E arrasada quando ele quis apenas algumas colherinhas
... Achar que seu filho é absolutamente O MÁXIMO
... Vibrar com cada conquista, por mais insignificante que ela possa parecer aos outros
... Rir por dentro quando ele prefere seu colo ao de outra pessoa
... Acreditar que nada no mundo a faça tão feliz quanto as gargalhadas dele
... Não ter nojo de nada (no que diz respeito a ele, claro...)
... Nem lembrar das dores do parto
... Sentir-se às vezes completamente esgotada
... Sair sozinha e ter saudades alguns minutos depois
... Amar, amar e amar

Maioridade?

Já assumi aqui que não tenho o desprendimento de 'criar minha filha para o mundo'. Errada ou não, fazer o que? Nada que alguns anos de terapia mais tarde não possam resolver. Terapia para mim, vejam bem.

O que acontece, é que venho me conformando com a idéia de que esta terapia deverá ter início nos próximos meses. Minha filha adora ser independente. Não sei de onde veio isso (mas suponho que deva ser da mesma genética que conferiu a ela lindos olhos azuis).


Eu não posso acender a luz do quarto dela de manhã. Tiro a pequena do berço e um dedinho apontado já avisa "eu, mamãe" (não, ela ainda não fala, mas ser mãe inclui decifrar todo dialeto e/ ou linguagem corporal de suas crias).
Mamãe pentear o cabelo dela? Nem pensar!
Ensaboá-la? Ela faz sozinha.
Salpicar o conteúdo do remédio (em sachê) na comidinha? Já sabem, ela.
Nem mais sentada no meu colo ela quer ficar. Quer uma cadeira só dela, de mocinha.


O que é isso? Algum tipo de maioridade no mundo de bebês?

E o que mais me preocupa, é que minha mãe também não me criou para o mundo e cá estou eu, a kilometros e kilometros de distância.


Crise.